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Demência é o termo utilizado para designar um grupo de doenças que causam degeneração progressiva das funções cognitivas, como memória, raciocínio, comportamento, linguagem e habilidades sociais, interferindo nas atividades diárias e qualidade de vida de uma pessoa.
A condição, que é uma das principais causas de incapacidade e dependência entre as pessoas idosas, afeta 50 milhões de pessoas em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o número de diagnósticos aumente para 78 milhões em 2030 e 139 milhões em 2050.
👉 Diversas doenças podem estar associadas à demência, entre as principais:
Mal de Alzheimer;
Demência vascular;
Demência frontotemporal;
Demência com corpos de Lewy;
Traumatismo craniano repetitivo;
Doença de Parkinson.
Na população acima de 60 anos, cerca de 5% tem critérios para o diagnóstico da doença, aponta a OMS. No entanto, um estudo realizado por pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) indicou uma mudança para esse cenário. Isso porque a pesquisa revelou que metade dos diagnósticos de demência em adultos brasileiros poderiam ser evitados através do controle de determinados fatores de risco.
Wyllians Borelli, autor da pesquisa, médico residente em neurologia e membro do time de saúde da hygia, explica que apesar de haver diversos fatores para a demência, a carga genética é cerca de 50% um fator atribuível das demências, o que significa que parte dos declínios cognitivos pode ser evitado.
Descobertas que abrem caminhos
No estudo, publicado na revista científica The Lancet Regional Health - Americas, foram identificados dez indicadores determinantes para o desenvolvimento da doença:
perda auditiva;
hipertensão;
sedentarismo;
nível de escolaridade;
consumo de álcool;
obesidade;
tabagismo ativo;
depressão;
isolamento social;
diabetes.
No entanto, os resultados surpreenderam os pesquisadores, visto que o fator de maior impacto presente nos participantes do estudo diagnosticados com demência foi perda auditiva (14,2%).
“O que mais impressionou é que uma grande porcentagem dos participantes relatou a perda auditiva em nosso estudo. O estudo foi feito com a base populacional do Brasil, o que significa que existe uma porcentagem grande de pessoas (cerca de 30%) que tem perda auditiva”, comenta Borelli.
Perda auditiva: uma questão de saúde pública
O Relatório Mundial sobre Audição da OMS alerta que, caso não sejam tomadas medidas, pelo menos 700 milhões de pessoas precisarão de acesso a cuidados auditivos e outros serviços de reabilitação.
“Essa perda auditiva geralmente não é valorizada pelo paciente, não é valorizada pelo sistema de saúde e não é feito nada em relação a isso. Então perdemos uma ótima oportunidade de evitar um declínio cognitivo, de evitar a demência”, destaca o pesquisador.
A Organização ressalta que a falta de informações, conhecimentos e estigmatização em relação às doenças do ouvido e à perda auditiva muitas vezes impedem as pessoas de terem acesso ao diagnóstico precoce, prevenção e tratamento adequados.
Segundo Borelli, os resultados apresentados no estudo evidenciam que é preciso agir o quanto antes em relação a esse problema de saúde pública. “Existe um estudo que aponta que cerca de 74% das pessoas com demência não têm diagnóstico, ou seja, elas estão morando em casa já com uma demência leve, moderada ou avançada e ninguém sabe, ninguém diagnosticou”.
Medidas necessárias
Existem dois pontos fundamentais que podem contribuir para a prevenção e diagnóstico precoce da demência, aponta Borelli. São eles:
Não encarar o esquecimento como algo normal da idade. Desse modo, é possível diagnosticar, começar a tratar e controlar fatores de risco. Existem uma série de ações que podemos fazer, aumentar o conhecimento e não menosprezar o esquecimento são umas delas.
Melhorar as estratégias de saúde pública para manejar os problemas que cercam a doença, sobretudo a perda auditiva. Informar mais a população e alertar profissionais de saúde sobre a doença e seus fatores de risco.
“Não existe uma estratégia de saúde pública para a demência. Por exemplo, o Brasil não possui o Plano Nacional de Demência, como tem nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Argentina. Os idosos brasileiros não têm o amparo da saúde pública para diagnóstico e tratamento, é muito fraco ainda. É preciso estruturar essa questão”, enfatiza.